sábado, outubro 29, 2005

Incentivos Ă  leitura

«Há um número considerável de autores que se têm debruçado sobre as razões que levam certas crianças a apaixonarem-se pela leitura e outras a só lerem por obrigação. Este assunto tem feito germinar livros de maior ou menor êxito e tem dado ocasião a palestras, conferências e colóquios.Como autora, também de livros na área infanto-juvenil, é um tema pelo qual me tenho interessado. Pela já longa experiência tanto no contacto nas escolas e bibliotecas com crianças e jovens em acções de “incentivos à leitura”, como no meio familiar, onde tive o privilégio de observar os meus quatro filhos, oito netos e vários sobrinhos, constatei que há crianças que nascem com o interesse por ouvir e ler histórias e outras que precisam de incentivos.Sabe-se que há diferenças fundamentais na mobilização do cérebro feminino e masculino. Sabe-se que o hemisfério cerebral do lado direito é amplo, criativo, é a essência das coisas, das cores, receptivo, incita à meditação, à arte, à aventura, é o da intuição, da síntese, e do factor espacial.

O hemisfério esquerdo (bem entendido que usamos ambos) fornece a fala, a minúcia, a mecânica, a lógica; é fechado, cauteloso, repetitivo e verbal, também é analítico e privilegia a memória. Por isso as crianças aprendem de formas diferentes: de forma visual, verbal e cinestésica (pela observação da acção). Compreendendo bem as diferenças sabemos que não há receitas universais.Encontrei em meios carenciados, onde os pais não lêem e, portanto, o livro não está disponível em casa, crianças que se tornam assíduos leitores na biblioteca da escola. Verifiquei que crianças rodeadas de livros em casa de seus pais e avós mostram interesse por outras áreas. É evidente que o contador de histórias (pais, avós, amigos, educadores etc.) tem um papel importantíssimo. Saber ler histórias, especialmente teatralizando-as, mesmo que apenas dando especial ênfase aos textos, pode conquistar adeptos. Para além deste facto há os laços de ternura e a surpresa de momentos inesquecíveis que os intervenientes jamais esquecerão.Não há receitas infalíveis, mas pôr na mão do bebé livros é quase obrigatório. O livro é outro que não um brinquedo. Se compreendemos o que interessa realmente a determinado jovem e lhe entregamos um livro sobre esse assunto podemos incentivá-lo a futuras leituras. As facilidades actuais do mundo informático conduzem a que a elite dos leitores de livros formem um grupo especial. Baseada em George Steiner estou crente de que : "A linguagem existe, a arte existe, porque existe o outro." Ésquilo dizia: Sê o que és. Também é um sábio preceito.Quem escreve vai continuar a escrever para alguém e o número de pessoas não é tão importante como a qualidade de quem lê. Por momentos estabelece-se uma corrente invisível, mas terrivelmente fraterna e é só esse o desejo do escritor e do leitor. É o desejo dos pais e avós esclarecidos transmitir essa centelha aos mais novos tendo em conta os factores apontados e muitos mais que não cabem nesta nota.»